Pela primeira vez em uma conferência do clima da ONU, indígenas, quilombolas, agricultores familiares e comunidades tradicionais serão responsáveis por parte dos alimentos servidos aos participantes da COP30, agendada para novembro de 2025, em Belém (PA).
Edital reserva 30% dos ingredientes para produção familiar
O edital da 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas determina que, no mínimo, 30% dos ingredientes utilizados nos restaurantes oficiais sejam oriundos da agricultura familiar, da agroecologia e de povos e comunidades tradicionais.
Iacitatá coordena a operação de alimentação
No início de outubro, o Ponto de Cultura Alimentar Iacitatá foi escolhido para coordenar os restaurantes do evento. Fundado em 2009 pela cozinheira Tainá Marajoara, do povo Aruã-Marajoara, o projeto reúne cerca de 600 famílias de agricultores, assentados da reforma agrária e comunidades tradicionais, garantindo escoamento da produção e preços justos.
Impacto econômico e participação local
No Pará, aproximadamente 8 mil famílias estão aptas a fornecer produtos para a conferência. A compra de insumos pode movimentar R$ 3,3 milhões na economia local.
Produtores destacam biodiversidade amazônica
Entre os integrantes da rede está Noel Gonzaga, produtor agroecológico de Marituba, na região metropolitana de Belém. Ele cultiva macaxeira, abóbora, feijão, quiabo, milho, açaí e batata ariá — tubérculo que, segundo ele, perdeu espaço após a introdução do trigo e hoje corre risco de desaparecer.
“Vamos fornecer alimentos para a COP30 tanto pela cooperativa quanto pela rede articulada com o Iacitatá. Essa conquista é coletiva”, afirma Gonzaga.

Imagem: Iacitatá
Parcerias além da Amazônia
O Iacitatá também articula a compra de arroz, açúcar e café produzidos de forma agroecológica no Rio Grande do Sul, Paraná e Minas Gerais. “Nossa afinidade não é geográfica, é de ideias”, destaca Gonzaga, ao mencionar que o grupo prioriza fornecedores comprometidos com práticas sustentáveis.
Apoio logístico da Conab
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) fará a ponte entre produtores e restaurantes da conferência, dentro do projeto “Na Mesa da COP”, coordenado pelo Instituto Regenera, de São Paulo, já presente em outras cúpulas climáticas internacionais.
Alimentos carregam história e cultura
Referência na defesa da cultura alimentar amazônica, Tainá Marajoara reforça que a comida servida em Belém representará “histórias de vida, territórios e saberes ancestrais”, conectando ancestralidade e sustentabilidade durante o encontro global.
Com informações de Globo Rural