Kuala Lumpur (Malásia) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem reunião marcada para este domingo, 26 de outubro, com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com o objetivo principal de derrubar a cobrança extra imposta pelos norte-americanos sobre as exportações brasileiras de carne bovina e café. Em contrapartida, o governo brasileiro admite reduzir a alíquota de 18% aplicada ao etanol produzido nos EUA.
Fontes que acompanham a missão brasileira na Ásia informaram que o encontro deve ocorrer entre 17h e 18h, horário local (6h e 7h de Brasília), na capital da Malásia. Empresários do agronegócio avaliam que a conversa pode encaminhar um acordo para remover a tarifa adicional de 40% que vigora desde agosto sobre os dois produtos brasileiros. Permaneceria, porém, a tarifa padrão de 10% estabelecida pelos EUA em abril para todos os parceiros comerciais.
Setores pressionam por desoneração
Segundo interlocutores que falaram recentemente com Lula, a possibilidade de avanço é considerada alta, embora nenhum anúncio definitivo deva sair da reunião. Ainda não se sabe se a eventual retirada da sobretaxa seria imediata ou gradual.
Na véspera, Trump declarou que poderia rever as tarifas “diante das circunstâncias certas”. Lula, por sua vez, disse que pretende “colocar os problemas na mesa” para buscar solução.
Etanol no centro da troca
Para obter a redução da tarifa sobre carne e café, o Palácio do Planalto pode sinalizar corte na taxa de 18% sobre o etanol norte-americano, vigente desde 2023 após o fim de um período de isenção. O tema preocupa produtores nordestinos, contrários a facilitar a entrada do biocombustível de milho dos EUA.
Entidades do setor sucroenergético, como a União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica) e a Bioenergia Brasil, divulgaram nota em 17 de outubro afirmando que o etanol brasileiro é estratégico para a segurança energética e não deve servir de moeda de troca. Ambas dizem confiar em “condução responsável” do governo.
Café e carne afetados pelo tarifaço
Com a sobretaxa de 40%, as compras de café brasileiro pelos EUA despencaram 52,8% em setembro, segundo o Cecafé. No ano passado, o Brasil enviou 471 mil toneladas de café ao mercado americano, gerando mais de US$ 2 bilhões; em 2025, até setembro, as exportações somam 249,5 mil toneladas e US$ 1,6 bilhão.
A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) aponta situação semelhante para a carne bovina. Em 2024, os EUA importaram 229,5 mil toneladas, volume já quase alcançado em 2025, com 218 mil toneladas até agora. Mesmo com queda de embarques em agosto (9,3 mil t) e setembro (9,9 mil t), as vendas acumuladas no ano crescem 64,6% em volume e 53,8% em valor frente a 2024.
Imagem: Claudio Kbene
Negociação envolve outras pautas
Além do etanol, o Brasil condiciona eventual corte tarifário a maior acesso do açúcar nacional ao mercado norte-americano, que hoje dispõe de cota restrita de 155 mil toneladas para usinas do Nordeste. Do lado brasileiro, argumenta-se que o etanol de milho dos EUA recebe subsídios, o que geraria concorrência desleal com o produto de cana-de-açúcar.
Apesar das tarifas, os EUA embarcaram 111,5 mil toneladas de etanol ao Brasil entre janeiro e setembro de 2025, movimentando US$ 68,4 milhões – desempenho superior ao de todo o ano anterior, quando foram exportadas 86,2 mil toneladas, com receita de US$ 50,1 milhões.
O vice-presidente Geraldo Alckmin confirmou ao setor cafeeiro que o produto estará na mesa de negociação entre os dois presidentes, com duas estratégias em discussão: suspensão imediata de todas as tarifas ou inclusão do café numa lista de isenção individual, que ao menos retiraria a sobretaxa de 40%.
Negociadores brasileiros esperam sair de Kuala Lumpur com um encaminhamento político que reduza a pressão sobre carne e café, mesmo que detalhes técnicos sejam fechados posteriormente.
Com informações de Globo Rural
