Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) vêm se tornando alternativa crescente de financiamento para produtores rurais e companhias de menor porte do agronegócio. A tendência se intensificou em 2025, impulsionada pela menor oferta de crédito bancário tradicional.
Carteiras em expansão
Na gestora Lund, braço da Eco Gestão, o patrimônio sob gestão avançou principalmente nos FIDCs monocedentes voltados à indústria de insumos agrícolas. Esses fundos, ligados a uma única empresa que parcela vendas aos clientes, somam R$ 5 bilhões dos R$ 7 bilhões administrados pela casa.
Na Multiplica Crédito e Investimentos, o volume em FIDCs alcança R$ 5,2 bilhões, dos quais 60% correspondem a recebíveis do agronegócio. Segundo o sócio fundador, Eduardo Barbosa, houve expansão de 26% no total neste ano, sendo R$ 1 bilhão apenas em operações ligadas ao campo.
Queda no crédito rural tradicional
O movimento ocorre em meio à cautela dos produtores. Nos dois primeiros meses do Plano Safra 2025/26, os desembolsos de crédito rural recuaram 23% frente ao mesmo período do ciclo anterior, caindo de R$ 115,8 bilhões para R$ 93,6 bilhões.
Na Multiplica, o provisionamento para devedores duvidosos passou de 1,3% da carteira, registrado entre dezembro de 2024 e agosto, para 0,9% em setembro. A gestora projeta crescimento anual de 30% até 2027, mantendo o agronegócio como foco principal.
Perfil dos tomadores muda
Barbosa observa que, além dos pequenos e médios produtores, empresas de maior porte também recorreram aos FIDCs para diversificar fontes de recursos, mesmo com o mercado de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) ainda aberto a elas.
Para lidar com o aumento da inadimplência, a Multiplica intensificou o monitoramento e redistribuiu operações, reduzindo exposição a soja e milho e ampliando crédito a outras culturas.
Imagem: Pierre Duarte
Critérios mais rígidos em outras gestoras
A Catálise, que atende companhias com faturamento anual entre R$ 200 milhões e R$ 5 bilhões, endureceu as exigências em 2025. Segundo Marcelo Aoki, a gestora não aceita produtores sem seguro climático nem com mais de 30% das terras arrendadas. “A perspectiva dos FIDCs é boa, mas a do agro não é tão boa. Nenhum setor sustenta juros de 15% ao ano”, afirma.
Na Asset Bank, o maior avanço foi entre médios produtores com receita de até R$ 30 milhões por ano. O CEO Gustavo Assis informa que a casa administra R$ 3 bilhões distribuídos em 42 FIDCs, com tíquete médio baixo por conta da carteira pulverizada.
Para Guilherme Grahl, sócio responsável pelo agro na Valora, “o pior já passou”. Ele avalia que o ambiente macroeconômico melhorou para as commodities: “Os preços seguem baixos, mas os custos se equalizaram”. Aoki concorda: “As carteiras estão sendo saneadas e os produtores iniciando a nova safra”.
Com informações de Globo Rural
