Tomé-Açu (PA) – A Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (Camta) pretende ampliar dos atuais 7 mil para 17 mil hectares a área cultivada em sistemas agroflorestais nos próximos anos, com foco no dendê.
Expansão respaldada por estudos
O modelo de consórcio de espécies foi testado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) entre 2008 e 2020 em seis hectares da fazenda do produtor Ernesto Suzuki. O levantamento comprovou a viabilidade do dendê em agrofloresta, superando a antiga predominância do monocultivo.
Produtores já iniciam conversão
Suzuki, que já maneja 50 hectares nesse formato, planeja transformar mais 120 hectares de sua propriedade de 430 hectares. O plantio de dendê começou em 2023 e já houve a primeira colheita. A fase de pico produtivo ocorre a partir do sétimo ano, com ciclo estimado de 25 anos antes da renovação das palmeiras.
Desempenho e redução de custos
No sistema agroflorestal, cada palmeira rende em média 180 quilos de cachos, ante 139 quilos no cultivo isolado. São até 99 plantas por hectare, enquanto o monocultivo comporta 143. A diversidade de 14 espécies reduz em cerca de 15% os gastos com adubação orgânica e garante renda ao longo de todo o ano.
Parceria com a Natura
Parte da produção abastece a indústria de cosméticos Natura, que projeta fomentar 40 mil hectares de dendê em agrofloresta na região até 2035. A parceria com a Camta soma hoje 413 hectares e deve alcançar 650 hectares na safra 2024/25. A empresa utiliza 46 bioingredientes amazônicos e pretende chegar a 55 até 2030.
Referência internacional
O Sistema Agroflorestal de Tomé-Açu (Safta), adotado desde a década de 1970, surgiu como alternativa à monocultura da pimenta-do-reino e hoje é referência com mais de 50 combinações de culturas. O município foi o primeiro do mundo a tornar obrigatória a adoção de agroflorestas como política pública, segundo o secretário municipal de Agricultura, Alírio Tavares.
Imagem: Cleyt Silva
Interesse do governo federal
O modelo inspira o Programa Nacional de Conversão de Áreas Degradadas, que mira 40 milhões de hectares em todo o país. Do montante de R$ 35 bilhões captados pelo leilão do Ecoinvest, 10% devem financiar sistemas agroflorestais na Amazônia, informou Carlos Augustin, presidente do comitê interministerial responsável.
Vitrine na COP30
Durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), em novembro, está prevista uma “ponte aérea” entre Belém e Tomé-Açu para que delegações estrangeiras conheçam in loco o sistema. Augustin avalia que o sucesso da Camta pode ser replicado em outras regiões, desde que haja crédito acessível e assistência técnica.
Angela Pinhati, diretora de sustentabilidade da Natura, reforçou que o principal desafio é a disponibilidade de linhas de financiamento para modelos produtivos sustentáveis e regenerativos.
Com informações de Globo Rural
