Na sexta-feira (10), o ex-presidente norte-americano Donald Trump anunciou a aplicação de uma tarifa de 100% sobre produtos importados da China, abrindo novo capítulo na já prolongada guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo.
A decisão foi resposta às restrições chinesas sobre exportações de terras raras — insumos fundamentais para baterias de carros elétricos e outros equipamentos avançados — que entram em vigor em 1º de dezembro. Embora o foco imediato recaia sobre esses minerais, a soja segue como peça central no embate bilateral.
Soja vira ferramenta de pressão
Tradicional principal fornecedora do grão para Pequim, a agricultura norte-americana perdeu espaço desde o início das disputas tarifárias. Para retaliar Washington, a China cortou drasticamente as compras de soja dos Estados Unidos e passou a ampliar negócios com Brasil e Argentina.
Os reflexos aparecem nos números: entre janeiro e agosto de 2025, os EUA embarcaram 218 milhões de bushels para a China, bem abaixo dos 985 milhões registrados no mesmo intervalo de 2024. Nos meses de junho, julho e agosto, os embarques praticamente zeraram e, até agora, não houve aquisição chinesa da nova safra norte-americana para o próximo ano comercial.
Pressão sobre produtores norte-americanos
A queda nas vendas preocupa o setor agrícola dos Estados Unidos. A American Farm Bureau Federation (AFBF) divulgou nota alertando que a ruptura no fluxo de exportação para a China ameaça a sustentabilidade financeira dos produtores, especialmente em estados rurais com forte peso político.
Brasil ganha mercado, mas enfrenta riscos
No curto prazo, o redirecionamento chinês beneficiou o Brasil. Dados do Ministério da Agricultura e Pecuária indicam que, entre 2023 e 2025, mais de 70% das exportações brasileiras de soja tiveram a China como destino, consolidando o país como maior exportador mundial do grão.
Esse avanço, contudo, traz incertezas. A dependência do mercado chinês expõe produtores brasileiros a variações cambiais, oscilações de preços e mudanças abruptas caso Washington e Pequim retomem entendimentos.

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Estrategicamente, Pequim diversifica fornecedores
Ao escolher a soja — produto sensível para estados agrícolas norte-americanos — e as terras raras como moedas de troca, a China intensifica a pressão sobre o governo dos EUA e reforça sua posição em negociações comerciais e geopolíticas.
A escalada tarifária iniciada por Trump entre 2017 e 2021, mantida em parte pelo governo Biden e agora retomada com mais vigor, mantém o comércio global em alerta. Cadeias produtivas de alimentos, tecnologia e logística seguem sujeitas a oscilações enquanto o conflito durar.
Não há, por ora, sinal de solução rápida. Até lá, países fornecedores alternativos, como o Brasil no caso da soja, convivem com o dilema de ganhar participação em um mercado aquecido sob permanente instabilidade.
Com informações de Canal Rural