Os Estados Unidos intensificaram as vendas externas de etanol de milho após uma forte retração de preços internos, que acumularam 18,9% de baixa entre outubro de 2023 e outubro de 2025 na bolsa de Chicago. Para escoar o excedente e conter novas perdas, Washington incluiu o biocombustível em novos acordos comerciais e questiona a alíquota de 18% cobrada pelo Brasil sobre o produto proveniente de fora do Mercosul.
Produção estável, demanda em queda
Embora a produção americana de etanol não tenha sofrido grandes alterações, o consumo de combustíveis no país diminuiu, efeito do avanço dos carros elétricos. Segundo Plinio Nastari, da consultoria Datagro, a eletrificação reduz o uso de gasolina e libera mais etanol, que continua a representar cerca de 10% da mistura no combustível.
Margens apertadas nos EUA
Dados da Universidade Estadual de Iowa mostram que produtores do Estado chegaram a registrar prejuízo operacional de até US$ 0,20 por galão em fevereiro. Desde outubro de 2023, as margens raramente superaram US$ 0,50 por galão; entre janeiro e junho de 2025, a média ficou em US$ 0,08, abaixo do histórico calculado pela S&P Global. Estudo de Scott Irwin, da Universidade de Illinois, aponta que as margens de 2024 foram as mais baixas desde 2007, após um período favorável entre 2021 e 2023.
Jamie Dorner, analista da S&P, lembra que as cotações do etanol acompanham o preço do milho, que vem cedendo nos últimos anos e deve manter a pressão de baixa.
Exportações em alta
Na temporada 2023/24, os embarques americanos cresceram 39%, alcançando 1,7 bilhão de barris. Entre setembro de 2024 e maio de 2025, o volume exportado subiu 18% na comparação anual, de acordo com a Associação de Combustíveis Renováveis (RFA). A S&P projeta novo aumento neste e no próximo ano.
O etanol foi incluído em acordos assinados pelo governo Donald Trump com Reino Unido — que deve importar 1,4 bilhão de litros anuais —, Japão e Indonésia. Em julho de 2025, o lobby do setor levou o Escritório do Representante Comercial dos EUA (USTR) a abrir investigação sobre a tarifa brasileira de 18%.

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Efeito no mercado brasileiro
Segundo a Datagro, atualmente o etanol americano chegaria ao Nordeste 4% a 5% mais caro que o anidro enviado por cabotagem a partir do Centro-Sul. Sem a tarifa, teria vantagem de 9%. A Argus calcula que, livre do imposto, o litro desembarcado em Suape (PE) custaria R$ 3,33, ante R$ 3,55 do produto nacional; com a alíquota, o preço subiria a R$ 3,89.
Entre janeiro e julho de 2025, o Brasil importou 170 milhões de litros de etanol, alta de 54,7% em relação ao mesmo período de 2024. As compras dos EUA avançaram 20%, enquanto as originárias do Mercosul — isentas de tarifa — cresceram 143%, puxadas pela Argentina. Um grande distribuidor estima que o país trará 800 milhões de litros na safra 2025/26, favorecido pelo etanol mais barato e pela valorização do real. A Agência Nacional do Petróleo (ANP) registrou aumento nos pedidos de licença para importação tanto dos EUA quanto de países vizinhos.
Com informações de Globo Rural