Pela primeira vez desde que foi criada, a Expointer não deve tornar públicos os números de negócios fechados no setor de máquinas e implementos agrícolas. A feira, que ocorre em Esteio (RS) até 7 de setembro, enfrenta um ambiente adverso marcado por juros altos, endividamento dos produtores gaúchos e demora na liberação de recursos do Plano Safra 2025/26.
Setor pressiona por sigilo
De acordo com Claudio Bier, presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas no Rio Grande do Sul (Simers) e da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs), a maioria dos 120 expositores solicitou que os resultados não fossem divulgados. “Os números estão muito baixos”, afirmou. Em 2024, a feira registrou pedidos que somaram R$ 7,393 bilhões.
O movimento segue o exemplo da Expodireto Cotrijal, em Não-Me-Toque (RS), que também optou por não revelar valores neste ano.
Financiamento travado
Um dos principais entraves é o Moderfrota. Dados do Ministério da Agricultura e Pecuária compilados pelo Simers apontam redução de 96 % nos repasses do programa a bancos, revendas e produtores em julho. “Estamos numa tempestade perfeita: quatro secas seguidas, uma enchente e Selic em 15 %. Isso leva o custo do financiamento para pelo menos 20 % ao ano”, disse Bier.
Produtor endividado
Levantamento da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) indica que 65 mil produtores devem R$ 27,4 bilhões a Banco do Brasil, Sicredi e Banrisul. O agricultor Jairo Bueno, que cultiva soja e arroz em 2.300 hectares em Capivari do Sul (RS), relatou dificuldades para obter crédito e precisou oferecer garantia real para negociar uma colheitadeira da John Deere durante a feira. “Hoje só compra quem tem extrema necessidade”, afirmou.
O pequeno produtor Nilo Jotz, de Alto Feliz (RS), pretende adquirir um trator da Valtra para 7,5 hectares de milho para silagem, mas teme não conseguir enquadramento no Pronaf diante da burocracia. “As máquinas estão muito caras”, disse.
Perspectiva das indústrias
Bier não vê recuperação do mercado gaúcho até o final do ano. A preocupação é compartilhada por Hugo Mário Boff, sócio-administrador da Mepel, fabricante de implementos de até R$ 400 mil. Ele projeta aumento de receita frente a 2024 graças às vendas fora do Sul, mas alerta para margens pressionadas por custos que sobem entre 10 % e 15 % ao ano.
Apesar do quadro, a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) registrou em julho alta de 19,3 % nas vendas internas de tratores e colheitadeiras ante o mesmo mês de 2024. O diretor de vendas da Valtra, Claudio Esteves, considera o dado sinal de “otimismo cauteloso” para 2025. Na Massey Ferguson, o diretor de Marketing, Breno Cavalcanti, aposta em consórcios, modalidade que deve crescer 20 % no próximo ano, embora reconheça maior dificuldade para máquinas de alta potência.
Com informações de Globo Rural
