São Paulo – A revista Globo Rural completou 40 anos e, segundo um de seus criadores, continua “necessária e oportuna”. O jornalista Humberto Pereira, 79, que passou 41 anos no Grupo Globo e dirigiu a publicação desde o lançamento, recebeu a reportagem em sua casa, na capital paulista, para recontar a origem do projeto, concebido fora das salas de reunião e dentro de um bar.
Do telejornal ao campo em rede nacional
Pereira trabalhava nos telejornais Jornal Hoje e Jornal Nacional quando, em 1979, ouviu do então diretor da TV Globo em São Paulo, Luiz Fernando Mercadante, a proposta de apresentar um programa rural em rede para todo o país. “Era o primeiro programa da emissora transmitido nacionalmente sem comando do Rio de Janeiro”, recorda. O Globo Rural estreou em 1980 e fará 45 anos em 2025.
Uma pesquisa comercial da Globo indicava expansão de energia elétrica e sinal de TV no campo – mas nenhum conteúdo voltado a esse público. O resultado foi imediato: a audiência ultrapassou a zona rural e ganhou os centros urbanos, reforçando a conexão entre cidade e campo.
Revista nasce cinco anos depois
A ideia de transformá-la em revista apareceu em 1985. Tentativas externas fracassaram até que João Noro, da Rio Gráfica, procurou Pereira, que sugeriu discutir o projeto “depois do expediente, no bar”. Ali, com filé-mignon picadinho à mesa, juntaram-se o diagramador Mario Rubial e o repórter Zé Hamilton Ribeiro. O conceito era simples: a revista deveria complementar o programa e manter o jornalismo como base.
O estopim veio de uma carta de telespectador: “Eu vejo o programa, mas é tudo muito rápido. Dá para imprimir?”. A equipe aproveitou o acervo de correspondências – entre 200 e 300 por dia, somando mais de 1 milhão de endereços – para uma mala-direta de assinaturas. No primeiro ano, a circulação saltou e a publicação tornou-se a terceira revista mais vendida do país, alcançando 400 mil exemplares mensais. A receita foi suficiente para a Rio Gráfica comprar papel na Finlândia para todas as suas revistas por um ano.
Texto apadrinhado por Drummond
Pereira exigiu linguagem de alta qualidade e convidou Carlos Drummond de Andrade para “padrinho” do texto. A última página passou a receber autores como Dias Gomes, Fernando Sabino e Raquel de Queiroz. Repórteres iam a campo para ouvir do proprietário ao peão, reforçando o princípio de que “o ser humano é o mais importante em cada fazenda”.
Imagem: Thiago de Jesus
Participação de Roberto Marinho
O jornalista convenceu Roberto Marinho a assinar o editorial de estreia e aparecer no expediente como editor. “Ele mostrava a revista com orgulho para quem entrava em sua sala”, conta. Reuniões de pauta e avaliação eram rigorosas; a matéria sobre acerola, que distribuiu mudas para todo o Brasil, virou um dos casos emblemáticos.
Presente e futuro
Hoje, a revista integra uma plataforma que envolve Valor Econômico, rádio CBN e jornal O Globo. Para Pereira, porém, o espírito inicial permanece: “É a palavra do campo, não a palavra da Globo”. Ele defende a continuidade da edição impressa: “É amigável, não é ligeira e pode ser lida quando se quiser”. Sobre a relação com o setor, resume: “Fala ‘Globo Rural’ e se abre qualquer porteira do Brasil”.
Com informações de Globo Rural
