O governo federal decidiu permitir que uma fração dos depósitos compulsórios da caderneta de poupança, hoje direcionados em 65% ao financiamento imobiliário, seja liberada para ampliar a oferta de crédito e, potencialmente, reduzir os juros da casa própria.
A medida, anunciada nesta semana, foi classificada pelo economista e comentarista Miguel Daoud como tecnicamente eficaz e politicamente estratégica, por atingir milhões de eleitores urbanos que almejam a aquisição da casa própria.
Produtores rurais apontam disparidade
No artigo, Daoud lembra que o Brasil rural é formado por 77% de pequenos agricultores familiares e 23% de produtores médios e grandes. Estes últimos respondem por cerca de 75% do valor total da produção agropecuária do país, garantindo abastecimento interno, superávit comercial e geração de renda no interior.
Apesar desse peso econômico, os produtores de maior escala teriam baixo poder eleitoral por serem numericamente poucos e geograficamente dispersos, o que, segundo o articulista, dificulta a inclusão do setor em reformas de crédito de grande alcance.
Juros elevados e renegociação de dívidas
De acordo com o texto, o crédito rural continua restrito, com juros considerados proibitivos, limites de financiamento travados e ausência de novas linhas para custeio da produção. Os produtores conseguem renegociar débitos existentes, mas não obtêm capital adicional para o próximo ciclo agrícola.
Para Daoud, enquanto o crédito imobiliário é revisto por decreto, o rural depende de remendos pontuais, comprometendo a capacidade de expansão do agronegócio.

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Proposta de uso dos depósitos à vista
O comentarista sugere que o governo adote no campo a mesma lógica aplicada à habitação: liberar parte dos depósitos compulsórios à vista, hoje imobilizados nos bancos, para irrigar o crédito rural com juros menores e prazos mais longos.
Entre os efeitos citados estão:
- aumento de liquidez sem exigência de novos subsídios fiscais;
- redução dos spreads bancários, hoje acima de 20% ao ano nos financiamentos agrícolas;
- fortalecimento dos 23% de produtores médios e grandes responsáveis por 75% da produção nacional;
- estímulo indireto a emprego, logística e renda em regiões do interior.
O artigo conclui que, no modelo atual, o crédito tende a seguir a relevância eleitoral do público-alvo: nas cidades, o financiamento de moradias garante visibilidade política, enquanto no campo o financiamento da produção permanece secundário.
Com informações de Canal Rural