O governo federal pretende detalhar na próxima semana um conjunto de medidas para amparar setores e empresas atingidos pela tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros.
Embora lideranças empresariais critiquem a demora na formulação do plano de contingência, fontes da equipe econômica afirmam que a crise começa a se acomodar graças a soluções encontradas por exportadores dos dois países nas últimas semanas.
Casos de mel e uva aliviam cenário
Dois exemplos citados por técnicos que acompanham o tema ilustram a parcial estabilização do mercado. No caso do mel, importadores norte-americanos decidiram arcar com a tarifa para cumprir contratos vigentes, evitando cancelamentos. Já produtores de uva redirecionaram parte da produção, originalmente destinada aos EUA, para outros destinos, reduzindo a pressão sobre o segmento.
Com as soluções provisórias para mel e uva, o governo concentra atenção em pescados, manga e castanhas, que podem ser incluídos em programas de compras públicas ou linhas especiais de crédito. Há ainda expectativa de que o café seja retirado da lista de produtos sobretaxados.
Descontos colocam apicultura em risco
Renegociações de preço estão em curso para equilibrar os custos adicionais. Segundo Renato Azevedo, presidente da Associação Brasileira dos Exportadores de Mel (Abemel), parte dos exportadores oferece desconto de 30% aos clientes norte-americanos na tentativa de preservar contratos e manter o fluxo de embarques.
O dirigente alerta, porém, que a redução ameaça a sobrevivência de muitos produtores. “Com esse desconto, muita gente pode quebrar. A aplicação pode inviabilizar nossa apicultura”, disse. Antes da tarifa, o mel brasileiro — majoritariamente orgânico — já custava em média 30% a mais que o argentino. Com a sobretaxa, a diferença pode praticamente dobrar, o que assusta importadores e pode derrubar a demanda futura.

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Para ilustrar o impasse, Azevedo explica que um lote negociado a US$ 10 subiria para US$ 15 com a tarifa de 50%. Aplicando o desconto de 30%, o preço cai para US$ 7; somada a tarifa (US$ 3,5), o custo final fica em torno de US$ 10,5 — valor que, segundo ele, transfere a maior parte da conta aos produtores brasileiros.
Embarques antecipados e apoio oficial
Alguns exportadores adiantaram remessas para garantir a chegada do produto aos EUA antes da vigência da tarifa. Mesmo assim, importadores pressionam por novos cortes de preço e retardam a contratação de contêineres adicionais, aguardando definições.
O setor aguarda o anúncio das medidas oficiais. O mel já integra o programa de compras governamentais, mas, de acordo com a Abemel, o alcance ainda é restrito e envolve volumes pequenos.
Com informações de Globo Rural