Um levantamento realizado por pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente e da Embrapa Cerrados avaliou 30 anos de dados sobre feijão, milho e soja em Goiás e no Distrito Federal e confirmou que os fenômenos El Niño e La Niña interferem diretamente nos rendimentos agrícolas da região.
Como o estudo foi conduzido
A equipe analisou séries históricas de precipitação diária da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) de 1992 a 2021, abrangendo 159 estações meteorológicas. O período avaliado foi de outubro a março, correspondente à safra de verão.
Os registros de chuva foram comparados ao Índice Oceânico Niño (ION), da National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), para classificar cada ciclo agrícola como El Niño (ION > +0,5 °C), La Niña (ION < –0,5 °C) ou neutro. No intervalo estudado, houve oito anos de El Niño, oito de La Niña e 14 anos neutros.
Produtividade por cultura
Dados da Produção Agrícola Municipal (PAM/IBGE) de 35 municípios produtores de feijão, 62 de milho e 34 de soja foram ajustados por regressões lineares, a fim de isolar os ganhos tecnológicos e identificar anomalias de produtividade. Valores acima de um desvio-padrão da tendência foram classificados como positivos; abaixo, como negativos.
- Feijão: 359 anomalias positivas (40,2%) e 346 negativas (38,8%). Anos de La Niña concentraram a maioria dos ganhos; El Niño esteve ligado a perdas.
- Milho: 734 anomalias positivas (40,2%) e 701 negativas (38,4%). O melhor desempenho ocorreu em anos neutros, enquanto o El Niño registrou prejuízos.
- Soja: 442 anomalias positivas (44,7%) e 342 negativas (34,6%). A cultura respondeu melhor à La Niña, com resultados negativos mais frequentes em anos neutros.
Implicações para o Zoneamento Agrícola
O trabalho integra o projeto Avaliação de Risco e Resiliência Agroclimática e busca subsidiar ajustes no Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc). Atualmente, o Zarc define duas datas fixas de semeadura por cultura; os autores defendem que a incorporação de previsões anuais de El Niño ou La Niña permitiria recomendações mais precisas, reduzindo riscos para os produtores.
Imagem: Pedro Silvestre
Os próximos passos incluem o desenvolvimento de modelos que integrem as informações climáticas ao Zarc, de modo a alinhar políticas públicas e estratégias de manejo às oscilações globais do clima.
Com informações de Canal Rural
