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Inadimplência no agronegócio atinge recordes e pressiona bancos brasileiros

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A inadimplência no crédito destinado ao agronegócio avançou de forma expressiva nos últimos meses e acendeu o alerta no sistema financeiro. Apesar das estimativas de safra recorde de milho e de forte colheita de soja em 2025, a queda nos preços das commodities, o elevado endividamento dos produtores — que contrataram financiamentos quando a Selic estava nas mínimas históricas em 2020 e 2021 —, a onda de recuperações judiciais (RJs) e as exigências da resolução 4.966 do Banco Central (BC) deterioraram a capacidade de pagamento do setor. A recente imposição de tarifas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra produtos brasileiros adiciona incertezas ao cenário.

Banco do Brasil sente o maior impacto

Com quase 50% de participação no segmento, o Banco do Brasil (BB) registrou a inadimplência mais alta de sua série: 3,94% em junho, ante 2,45% um ano antes e 0,96% no fim de 2023. A carteira agro da instituição soma R$ 404,9 bilhões, e cerca de 20 mil clientes estão inadimplentes — 74% deles sem histórico de atraso até 2023. Do total vencido, 52% concentram-se nas regiões Centro-Oeste e Sul e metade está ligada às culturas de soja, milho e cria de bovinos.

O banco também contabiliza 808 produtores em recuperação judicial, com exposição de R$ 5,4 bilhões. Após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de 2020 que equiparou grandes produtores rurais a empresas para fins de RJ, o BB relata um salto nesses pedidos desde 2023. A presidente da instituição, Tarciana Medeiros, afirma que avaliará medidas legais contra escritórios de advocacia que, segundo ela, estimulam “litigância predatória”.

Dados do crédito rural

Informações do BC mostram que o estoque de crédito rural direcionado a pessoas físicas fechou junho em R$ 539,8 bilhões, alta anual de 7,5%. Entre pessoas jurídicas, o volume alcançou R$ 99,3 bilhões, avanço de 9,4%. A inadimplência na pessoa física subiu de 1,5% para 3,5% em 12 meses.

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Levantamento da Serasa Experian indica 389 pedidos de RJ no agronegócio no primeiro trimestre, crescimento de 21,5% ante o quarto trimestre e de 44,6% frente ao início de 2024. Segundo o diretor Marcelo Pimenta, produtores enfrentam custos elevados, prazos longos para recebimento, maior exigência de garantias e dificuldades para rolar dívidas.

Posicionamento dos demais bancos

No Santander, cuja carteira rural totaliza R$ 22,4 bilhões, o presidente Mario Leão prevê “alguns trimestres desafiadores” e classifica o momento atual como “o mais duro do ciclo do agro”. O Itaú, com mais de R$ 130 bilhões alocados no setor, relatou participação de apenas 5% nos pedidos de RJ, resultado de “gestão de portfólio ativa”, segundo o CEO Milton Maluhy Filho. Já o Bradesco, dono de linhas específicas de crédito rural que somam R$ 79,4 bilhões, afirma manter a inadimplência sob controle, de acordo com o presidente Marcelo Noronha.

Cooperativas também observam alta

Entre as cooperativas, o Sicredi identifica aumento nos atrasos de pagamento, variando conforme a região e as condições climáticas. A entidade destaca crescimento dos pedidos de recuperação judicial e a necessidade de distinguir casos legítimos de uso estratégico do instrumento.

Plano Safra 25/26 e perspectivas

O governo anunciou o Plano Safra 25/26 no valor de R$ 594,4 bilhões, sendo R$ 516,2 bilhões para médios e grandes produtores e R$ 78,8 bilhões para a agricultura familiar — alta de 1,69% em relação à safra anterior, abaixo da inflação de 5,32% no período. Analistas apontam que juros elevados e menor volume de subsídios ampliam a incerteza e o endividamento. Para Carlos Aguiar, diretor de agro do Santander, a restrição fiscal compromete a política de equalização e tende a tornar 2025 um “ano difícil”.

Os desembolsos de crédito rural caíram 25% no primeiro mês do novo Plano Safra. Como diversas operações da temporada 24/25 vencem entre julho e setembro, o BB espera inadimplência ainda pressionada no terceiro trimestre. A instituição vem substituindo garantias de penhor e hipoteca por alienação fiduciária, agilizando a cobrança e recorrendo mais à via judicial. O vice-presidente financeiro, Geovanne Tobias, lembra que a cultura interna do banco era evitar a execução de garantias, mas “isso está mudando”.

Com informações de Globo Rural

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