O estado de conservação do oceano que banha a costa brasileira segue em queda. De acordo com a Ocean Health Index, o índice nacional recuou de 77% em 2012 para 70% em 2024, sinalizando deterioração da qualidade da água, da biodiversidade e do equilíbrio dos ecossistemas marinhos.
Para o professor de pós-graduação em Oceanografia e Ecologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Paulo Horta, o litoral do país “está doente” e se aproxima de um ponto de não retorno, especialmente nas áreas recifais conhecidas como florestas marinhas.
Ameaça aos corais
Horta relata que os recifes brasileiros vêm enfrentando episódios intensos de branqueamento de corais. Nesse processo, a alta temperatura do mar, somada à poluição, rompe a relação simbiótica entre o coral e a alga que lhe dá cor, deixando a estrutura esbranquiçada e vulnerável a doenças e à morte.
“Os corais ficam pálidos como fantasmas e se tornam mais suscetíveis a doenças”, explica o pesquisador. Segundo ele, a mortalidade crescente das florestas marinhas preocupa porque esses ecossistemas liberam compostos, como o dimetil sulfeto, que contribuem para a formação de nuvens e, consequentemente, para o regime de chuvas em florestas terrestres e áreas agrícolas. “Não existe verde sem azul. Se o oceano estiver doente, nossos sistemas terrestres também estarão”, resume.
Propostas de recuperação
Durante a última Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP), pesquisadores defenderam medidas imediatas para reverter o quadro. Entre as prioridades estão o saneamento básico nas cidades costeiras, reduzindo a descarga diária de poluentes no mar, e o uso de algas na produção de biofertilizantes, alternativa que diminui a dependência de insumos importados e eleva a resiliência das lavouras diante de eventos climáticos extremos.
Horta afirma que o Brasil reúne conhecimento científico e capacidade técnica para avançar, mas carece de financiamento estruturado. Para suprir essa lacuna, a comunidade científica apresentou o Fundo Florestas Marinhas Para Sempre, que busca recursos de governos e do setor privado.
Imagem: Pixabay
Projeto-piloto em discussão
Como parte das tratativas multilaterais, o Brasil estuda liderar um projeto-piloto de recuperação de ecossistemas oceânicos. Pesquisadores já conversaram com representantes de Fernando de Noronha e de comunidades costeiras de diferentes regiões, todos dispostos a receber investimentos e implementar ações de restauração.
A expectativa é transformar a proposta em um programa concreto, capaz de impulsionar a reabilitação dos recifes brasileiros e, por consequência, melhorar o índice de saúde do oceano nos próximos anos.
Com informações de Canal Rural
