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Juro elevado e aumento de inadimplência reduzem acesso de pequenas e médias do agro aos CRAs

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São Paulo – A combinação de juros altos, endividamento crescente e avanço dos pedidos de recuperação judicial tem limitado o uso dos Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) praticamente às grandes companhias do setor em 2025.

Com os bancos mais cautelosos na concessão de crédito, produtores e empresas de menor porte estão migrando para outras fontes, como Fundos de Direitos Creditórios (FIDCs) e emissões de Cédulas de Produto Rural (CPRs). Alguns, mais pressionados, recorrem a fundos de situações especiais, os chamados “special sits”.

Inadimplência dispara em Fiagros e FIDCs

Levantamento da consultoria Uqbar revela que a inadimplência nos Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagros) subiu de 6,32% em dezembro de 2024 para 21,62% em julho de 2025. Nos FIDCs exclusivos de recebíveis do agronegócio, o índice passou de 5,89% para 12,74% no mesmo intervalo.

Embora os FIDCs ligados ao campo representem apenas 2,73% do patrimônio total da classe (R$ 14,7 bilhões), o diretor da Uqbar, Alfredo Marrucho, afirma que o aumento da inadimplência reflete o momento delicado do agronegócio.

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CPRs seguem em ritmo acelerado

Para acessar um CRA, o produtor precisa primeiro emitir uma CPR, que é securitizada para gerar o título. O estoque de CPRs registradas na B3 chegou a R$ 417 bilhões em julho de 2025, ante R$ 387 bilhões no fim de 2024 e R$ 250 bilhões em dezembro de 2023.

Preferência pelos FIDCs

Paulo Froes, responsável pelo mercado de capitais da StoneX, aponta que os FIDCs oferecem maior flexibilidade de negociação em caso de dificuldades financeiras. “No CRA, se o tomador não paga, ocorre vencimento antecipado. O FIDC dá tempo para negociar”, explica. O executivo estima que 20% das atuais recuperações judiciais no agro decorrem de emissões que não conseguiram renegociar cláusulas (covenants).

Endividamento pressiona crédito

Segundo a Serasa Experian, o setor rural registrou 565 pedidos de recuperação judicial no segundo trimestre de 2025, alta de 31,7% sobre igual período de 2024. Estudo da consultoria Virtus calcula que entre R$ 86,6 bilhões e R$ 95,6 bilhões em dívidas estão em renegociação ou com potencial para tal, em razão da maior alavancagem e da queda nos preços das commodities.

Com investidores mais seletivos, emissores de médio porte enfrentam condições mais duras. “O crédito novo está cada vez mais restrito e concentrado nos nomes de primeira linha”, afirma Cristian Lara, sócio da gestora Strategi, que atua tanto na compra de crédito já estressado quanto em operações DIP (Debtor-In-Possession) em recuperações judiciais.

Para Mariana Pollini, sócia do Lefosse Advogados, a busca por CRAs diminuiu, enquanto aumentou a demanda por FIDCs, que permitem maior diversificação de risco e prazos compatíveis com o ciclo de safra. “É uma indústria resiliente, mas o crescimento da inadimplência tem disparado cláusulas contratuais”, comenta.

No curto prazo, especialistas preveem que o acesso aos CRAs continuará restrito às grandes empresas, enquanto produtores e companhias médias deverão recorrer cada vez mais a FIDCs, CPRs e outras estruturas, ainda que a custos mais elevados.

Com informações de Globo Rural

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