Pesquisadores do Instituto de Biociências (IB) da Unesp e da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) identificaram uma nova espécie de cigarrinha-da-raiz que tem provocado prejuízos em lavouras de cana-de-açúcar. O inseto foi batizado de Mahanarva diakantha e sua descrição científica foi publicada em outubro deste ano no periódico Bulletin of Entomological Research, da Universidade de Cambridge.
Até agora, as espécies mais comuns associadas a surtos na cultura eram Mahanarva fimbriolata e Mahanarva spectabilis. Assim como esses insetos, a nova cigarrinha apresenta coloração marrom-avermelhada, alimenta-se da seiva da cana e transmite toxinas que causam queima das folhas e redução do teor de sacarose. Estima-se que infestações possam resultar em perdas de até 36 toneladas por alqueire.
Da suspeita à confirmação
O trabalho começou após produtores relatarem resistência da praga a defensivos químicos. Uma pesquisadora da Embrapa em Araras levantou a hipótese de que se tratava de uma espécie diferente e enviou amostras para análise na PUC-RS. A investigação avançou em duas frentes: avaliação morfológica, conduzida pelos cientistas Andressa Paladini e Gervásio Silva Carvalho, e estudo genético liderado por Diogo Cavalcanti Cabral-de-Mello, docente do IB/Unesp.
Entre 2012 e 2015, mais de 300 insetos coletados em usinas sucroalcooleiras foram comparados a dados de espécies já catalogadas. Um marcador de DNA mitocondrial apresentou variações suficientes para diferenciar os espécimes estudados dos táxons conhecidos. Segundo Cabral-de-Mello, esse padrão genético reforçou a evidência de que se tratava de um organismo distinto.
Sutileza anatômica decisiva
A confirmação veio com a análise morfológica. Paladini identificou, nos machos, uma parte da genitália bifurcada e pontiaguda, contrastando com o formato quadrangular não bifurcado observado nas espécies próximas. A característica inspirou o nome diakantha, expressão que remete a “dois espinhos”.
Imagem: Rodrigo Souza Santos Samara Araújo da Silva
Próximos passos
A identificação da nova cigarrinha é considerada fundamental para desenvolver estratégias de controle específicas. “Mesmo que as espécies sejam próximas, um produto pode ser eficaz contra uma praga e ineficaz contra outra. Aparentemente era isso que estava acontecendo nas usinas”, explicou Cabral-de-Mello.
Com o registro taxonômico concluído, os pesquisadores afirmam que o caminho está aberto para testar defensivos ou métodos alternativos voltados exclusivamente à Mahanarva diakantha, reduzindo as perdas na produção de cana-de-açúcar.
Com informações de Canal Rural
