Os 50 municípios brasileiros com maior Produto Interno Bruto (PIB) agropecuário ostentam indicadores apenas medianos de qualidade de vida, segundo pesquisa inédita da organização Agenda Pública (AP) divulgada em julho de 2025. O levantamento revela que a prosperidade econômica gerada pelo campo não se converte, na mesma proporção, em avanços sociais para trabalhadores rurais e pequenos produtores.
Desempenho aquém do potencial
Para medir o bem-estar local, a AP analisou seis variáveis — educação, saúde, infraestrutura, proteção social, desenvolvimento rural e gestão pública — atribuindo notas de zero a um. A média geral ficou em 0,48, classificada como “média”. Nenhum dos municípios alcançou 0,6, patamar considerado “alto”.
Cascavel (PR) obteve o melhor índice, 0,57. Na outra ponta, Correntina (BA) registrou 0,42. O estudo aponta que nem o porte da economia agropecuária nem o tamanho da população explicam, isoladamente, esses resultados.
Centro-Oeste domina lista, Nordeste acumula déficits
Dos 50 municípios avaliados, 31 estão no Centro-Oeste, região marcada pela produção de grãos para exportação. Outros 11 localizam-se no Nordeste, área que convive com históricos gargalos em serviços públicos, apesar do avanço da fronteira agrícola conhecida como Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia).
Gestão pública pesa mais que riqueza
A qualidade da administração municipal foi responsável por aproximadamente 25% da variação no desempenho geral, segundo a pesquisa. O quesito considerou endividamento, poupança corrente, liquidez, transformação digital, transparência e existência de ouvidoria, alcançando média de 0,53.
Campos de Júlio (MT), com mais de 200 mil hectares plantados, liderou esse item com 0,78. Já Santana do Mundaú (AL), onde 87,9% do PIB de R$ 1,4 bilhão vêm do agro, ficou na última posição.
Educação e desenvolvimento rural são pontos críticos
A avaliação em educação foi a mais baixa entre as variáveis. Balsas (MA) registrou o pior resultado nessa área, ao passo que Rio Verde (GO) liderou com 0,59 — índice ainda insuficiente para ser considerado alto.

Imagem: Divulgação via globorural.globo.com
No campo do desenvolvimento rural, que inclui produtividade, uso de tecnologia, assistência técnica e participação de agricultores familiares e jovens, mais da metade dos municípios não chegou a 0,3. Apenas seis superaram 0,4 e nenhum atingiu 0,6. Sapezal (MT) foi exceção ao unir grande PIB agropecuário e desempenho relativamente melhor nesse indicador.
Concentração de renda e exclusão social
O estudo conclui que a predominância de grandes grupos econômicos e a mecanização intensiva fazem com que a riqueza do agronegócio circule fora dos municípios, deixando jovens, mulheres e agricultores familiares à margem da cadeia produtiva. Trabalhadores rurais, embora essenciais para o saldo comercial do país, seguem enfrentando baixos índices de desenvolvimento humano.
Próximos passos
A Agenda Pública pretende apresentar recomendações de governança e sustentabilidade às prefeituras e a autoridades federais, com o objetivo de alinhar políticas públicas à realidade exposta pelo levantamento.
Com informações de Globo Rural