Estados Unidos e China anunciaram uma trégua na guerra comercial, prevendo redução de tarifas e expansão das compras de produtos agrícolas. A medida, embora sinalize distensionamento momentâneo, é vista por analistas como uma pausa estratégica em uma disputa que tende a permanecer no centro da geopolítica global.
Dependência chinesa de alimentos favorece o Brasil
Segundo o comentarista econômico Miguel Daoud, a principal vulnerabilidade da China continua sendo a necessidade de importar soja e milho para sustentar sua indústria de ração e proteínas. Com 1,4 bilhão de habitantes e área agrícola limitada, Pequim mantém meta de autossuficiência apenas em arroz e trigo.
Em 2025, aproximadamente 65% da soja comprada pela China tem origem no Brasil; em alguns períodos, a participação brasileira superou 80%. O país asiático também se consolidou como maior comprador de carne bovina e de frango brasileiras.
Potências rivais e modelos distintos
A rivalidade entre as duas maiores economias vai além de tarifas. Washington enxerga Pequim como adversária desde que o país asiático ultrapassou os EUA na produção industrial e avançou em inovação tecnológica. A disputa abrange inteligência artificial, semicondutores, rotas marítimas e cadeias de suprimentos, com cada lado buscando liderança global.
Enquanto a administração norte-americana aposta em políticas protecionistas para reindustrializar o país, a estratégia chinesa foca investimentos de longo prazo em tecnologia, energia limpa e infraestrutura internacional.
Exigências para manter a vantagem brasileira
Para sustentar sua posição de principal fornecedor de alimentos à China, o Brasil precisa garantir credibilidade sanitária, eficiência logística e estabilidade interna, alerta Daoud. Avanços em vigilância contra pragas, acordos fitossanitários e melhoria de portos, ferrovias e armazenagem são considerados essenciais.
Imagem: Xinhua
O comentarista ressalta ainda que transformar grãos em produtos de maior valor agregado, como proteína animal e biocombustíveis, pode fortalecer as margens de lucro e gerar emprego, ampliando o peso geopolítico do país.
A trégua entre EUA e China pode ser temporária, mas a demanda chinesa por alimentos é contínua, mantendo o Brasil em posição estratégica no cenário internacional.
Com informações de Canal Rural
